quinta-feira, 19 de abril de 2012

Reportagem Revista Veja - 13/04/2012 - Games para os avós

A Revista Veja me convidou para fazer uma matéria muito interessantes sobre o uso de video game durante o envelhecimento. A ideia geral era abordar se o uso de jogos específicos que poderiam contribuir para uma melhor qualidade de saúde mental (cognitiva) durante o envelhecimento. 

Questões a respeito do uso de video game como ferramenta de treinamento das capacidades mentais, como a memória, planejamento, atenção, controle inibitório, atenção dividida, motricidade e tantas outras, tornaram-se parte da rotina de trabalho do neuropsicólogo.

A resposta para essas questões não é simples. Diversos problemas acompanham essa simples pergunta:

1 - a questão da generalização do aprendizado - será que a memória que eu uso no jogo e que está sendo treinada, vai transferir para minhas atividades do dia a dia em casa (por exemplo lembrar que tenho que tirar o feijão do fogo, enquanto estou passando a roupa)

2 - a questão da multiplicidade de funções treinadas - é claro que os jogos de video game treinam MUITAS habilidades ao mesmo tempo; controle motor no joystick, rastreio atencional visual no alvo que estamos buscando, memória para manter informações passadas na cabeça, planejamento para poder prever o que seu ato vai gerar no jogo, etc etc. Essa característica própria do game (treinar várias habilidades ao mesmo tempo) dificulta a capacidade de mensurar, avaliar e prever o impacto do uso de um game especifico como ferramenta de tratamento. Quando se treina tudo, não se conhece o verdadeiro impacto de cada estratégia de reabilitação utilizada.

3 -  a questão da funcionalidade - quando falamos de reabilitação ou tratamento, o nosso foco não é na habilidade cognitiva do paciente (memória, atenção, controle inibitório) e sim na funcionalidade do dia a dia desse paciente. Estamos preocupados que agora cada vez mais o paciente tem dificuldade de ir no supermercado, que ele não cozinha mais sozinho, que ele não consegue prestar atenção na aula, que ele tem dificuldade de ler, que ele não controla o impulso de brigar, etc etc. As funções mentais ajudam demais a compreender a perda funcional do paciente (no momento de levantar hipóteses), mas toda estratégia de reabilitação precisa ser focada nos problemas de participação, atividade e funcionalidade do paciente.


Levando-se em conta essas questões e aliando-se ao fato que ainda necessitamos de mais pesquisas para conhecer o real impacto do video game no cérebro humano, precisamos conhecer a maior qualidade que o video game. O video game é a maior maquina geradora de motivação do momento e isso por que ele tem todos os elementos constituintes para isso ocorrer: Feedback imediato, objetivo claro, recompensas e modulação do comportamento. Esse potencial de engajar em tarefas, muitas vezes difíceis, cansativas, exigentes, de maneira divertida e motivante, precisa ser utilizado dentro do cenário terapeutico SEM DÚVIDA.

Por fim, eu gostaria de deixar claro que matérias como essa da Veja ajudam e muito na discussão ampla do real impacto e de como o video game pode ser usados como ferramentas dentro de um contexto amplo de tratamento neuropsicológicos.

Existem instituições sérias onde a questão da reabilitação neuropsicológica e o uso de video game e outras ferramentas de tratamento são discutidas.
Centro Paulista de Neuropsicologia - http://www.cpnsp.com.br/
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - http://www.sbnp.com.br/site/

Quer saber mais sobre video game e reabilitação?
Eu vou dar uma palestra sobre esse tema no 8 Congresso Brasileiro de CérebroComportamento e Emoções - http://www.cbcce.com.br/