quarta-feira, 22 de junho de 2011

Associação Brasileira de Psiquiatria: Diagnóstico mais fácil para déficit de atenção

Diagnóstico mais fácil para déficit de atenção

Pesquisadores da Unifesp desenvolvem um modelo para simplificar a identificação de TDAH.

Pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram uma pesquisa na qual propõem um método mais simplificado para ajudar no diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Segundo o psicólogo e pesquisador Thiago Strahler Rivero, da equipe que desenvolveu o trabalho na Unifesp, o novo método consiste em um roteiro resumido que facilitaria a leitura dos resultados dos testes de desempenho contínuo, utilizados para o diagnóstico. O trabalho ajudaria tanto no trabalho clínico dos médicos, responsáveis pelo diagnóstico final, como também na ação dos demais profissionais que lidam como o TDAH – psicólogos, por exemplo.

A pesquisa concluiu que é possível resumir os 15 resultados apresentados em cada avaliação em cinco itens: atenção focada, associada à capacidade de concentração numa atividade; atenção sustentada, habilidade de se manter numa atividade por longos períodos; vigilância, aptidão para lidar com situações imprevisíveis; hiperatividade e impulsividade; capacidade de manutenção do controle.

“A gente não está propondo mudar o teste, que é muito bom, mas a forma de correção e avaliação dele para diminuir a subjetividade do avaliador”, diz Rivero. O teste, de referência internacional, é de 1956 e passou pela última revisão em 2005. “Ele é complexo porque, no fim da avaliação, dá uma folha com 15 resultados. A subjetividade do avaliador é muito grande e, se pegar o mesmo caso e passar por dez psicólogos, cada um vai dizer uma coisa. Propomos medidas que têm mais a ver com o dia a dia”.

A busca por mais precisão nos diagnósticos do TDAH é um dos principais desafios para o tratamento adequado da disfunção, que hoje acomete mais de 5% das crianças e dos adolescentes no mundo, estimam os pesquisadores. Em geral, os diagnósticos mais rápidos são feitos por equipes multidisciplinares – médicos com o apoio de psicólogos e, em condição ideal, ajudados por fonoaudiólogos e educadores.

“Nos Estados Unidos e na Europa, o educador tem de saber avaliar o desempenho mental dos seus alunos. Um modelo como esse colabora e muito na educação”, diz Rivero, cujo trabalho ainda é inédito no meio científico. “Está para revisão e vamos publicar em breve”, afirma.

Para a psicóloga clínica Cleide Heloisa Partel, portadora de TDAH que se tornou especialista no tema, há muitas variáveis na disfunção “para simplificar em cinco itens”. Em princípio, ela vê com ressalvas o trabalho. “O diagnóstico é complexo, sim, e a pessoa precisa conhecer muito bem o assunto. Reunir os resultados nesses cinco itens me parece uma coisa simples demais.”, diz. “Um dos pontos importantes a saber é se a pessoa nasceu com esse transtorno, que é genético”, afirma.

O neuropsiquiatra Fabio Barbirato, por outro lado, diz que o trabalho dos pesquisadores da Unifesp é importante como “instrumento acessório para tornar o TDAH mais acessível” a profissionais que costumam fazer o encaminhamento ao médico, como pedagogos e professores que suspeitam do TDAH nos estudantes.

“Um complicador do diagnóstico é a falta de conhecimento”, afirma Barbirato. “Existe uma série de patologias clínicas que podem afetar o déficit de atenção. Por isso é importante a avaliação médica”, completa.

Dono de um albergue para turistas na capital, Alberto Azevedo, de 27 anos, gostaria de ter tido um diagnóstico precoce do TDAH – quadro que ele só descobriu ter aos 25, depois de ter levado mais de seis anos para finalizar um curso universitário que deveria ter durado quatro anos. “Se soubesse antes, poderia ter aproveitado melhor o tratamento, foi um pouco tarde demais”, constata.

O que é TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma disfunção neurológica que atinge funções mentais, como memória, atenção e funções executivas. Está relacionado à capacidade de focar, de interagir com objetos e planejar ações. Abaixo, os critérios propostos pelo novo modelo:

Como identificar

1 Atenção focada: Falta de concentração numa atividade.

2 Atenção sustentada: falta de habilidade de se manter numa atividade por longos períodos.

3 Vigilância: inaptidão pra lidar com situações imprevisíveis.

4 Hiperatividade e impulsividade: manifestadas em vários tipos de comportamento, como comprar ou beber demais.

5 Capacidade de manutenção do controle: tendência a ser desorganizado, por exemplo.

Unifesp quer voluntários para pesquisar TDAH

A universidade abriu inscrições para jovens já diagnosticados com TDAH interessados em fazer parte de grupos de terapias associadas. O projeto mantém parceria com a Universidade Federal da Bahia. Inscrições pelo Centro Paulista de Neuropsicologia da Unifesp (11 5549-8476).

Entrevista – Alberto Azevedo – Descobriu TDAH aos 25 anos.

“Atrasei muito a minha vida”

- Como descobriu o TDAH?

Descobri na internet, aos 25 anos. Uma amiga comentou sobre o livro Mentes Inquietas, que fala sobre esse assunto. Aí eu dei uma pesquisada, fui lendo e descobri que tudo aquilo era muito parecido comigo. Fui a uma psicóloga especializada e a uma neurologista, que fechou o diagnóstico e receitou o remédio.

- Acha que foi tarde?

Sim, porque para passar no vestibular, por exemplo, tive grande dificuldade. Prestei para o curso de Rádio e TV quatro vezes até passar. Na escola, ficava entediado na aula, dormia muito. Já tinha desenvolvido minhas técnicas de cola nem lia a prova.

- Nunca ninguém desconfiou que você era hiperativo?

Meus pais sempre brigavam comigo, então eu achava que era vagabundo mesmo. Descobri o TDAH quando estava totalmente desesperado, no 6º ano de um curso que poderia ser feito em quatro. Foi um pouco tarde demais, atrasei muito a minha vida. Depois que fui diagnosticado, minha mãe, de 52 anos, e minha irmã, de 18 descobriram que também têm TDAH.

Pesquisadores da Unifesp desenvolvem um modelo para simplificar a identificação de TDAH.

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